25.2.09

Sabai Dee: (con)tradições no Laos

“Você tá lendo em português?” – eu tava tentando, naquela estrada infinita, há quase 20 horas dentro do mesmo ônibus. Tinha cruzado a fronteira já fazia algumas horas, o sol brilhava nas montanhas e refletia no rio, e o céu era de um azul que não se vê no Vietnam - mas nada me parecia mais interessante do que um banho e uma boa cama pra dormir. “Sim, to lendo em português, e de onde vem esse seu sotaque?” Simon era Holandês, há 35 anos, viaja um mês por ano. Conhece mais de 80 países e fala 12 línguas fluentemente. Pro Brasil já foi três vezes, Nordeste, Amazônia, Sul e Pantanal. Tem um conceito no minimo intrigante – gosta de atravessar o pais. O Vietnam ele visitou por apenas 4 dias, sendo 3 dias dentro de um trem de sul a norte e outro dia passou no ônibus. Esse mesmo ônibus que tomei, rumo ao Laos. Simon, mas por que você não parou no Vietnam? “Conheci mais do pais dentro do trem onde era o único estrangeiro do que muitos que param nos principais pontos”. Sim, tive que concordar. Pessoas. E ao contrario de alguns dos jovens revoltados com a grosseria e aparente falta de educação dos vietnamitas, Simon estava encantado com as pessoas que tinha conhecido. E aprendeu mais vietnamita do que eu consegui em 5 meses. E passei a apreciar as próximas horas do caminho ate Vientiane... Me perguntava por que a capital do Laos tem o nome tao parecido com o pais vizinho...? E o Simon explicou, que essa eh a leitura que os franceses fizeram do nome original que soa algo como “Wang Chieng”. Bom, ali chegamos, realmente a cidade de menos de meio milhão de habitantes faz jus a fama de capital mais tranquila da Asia. Na beira do Rio Mekong, restaurantes e bares em decks de madeira com almofadas no chão. Sensação de por do sol se estende pela noite. Do outro lado do Rio, esta a Tailandia – mas aqui desse lado, ainda tem leis e continuam budistas: tudo fecha as 11:30 da noite. Templos espalhados pela cidade, se misturam com construções espaçosas e ruas calmas. Me sinto em outro mundo... não tem buzina, não tem um zilhão de motos, não tem milhões de pessoas nas ruas em todos os horários e lugares, não tem gente tentando te vender coisas, a língua me cai bem, soa tranquila, eles sorriem, dizem Sabai Dee o tempo todo e o ar eh limpo. Sensação de pais novo. Com esperança. Ainda com esperança de construir um caminho justo. Sim, muita pobreza, mas ainda não eh caótico – como o Vietnam, e, em um estagio completamente diferente, o Brasil – onde em geral nos da a sensação de “por onde começar a arrumar tudo isso?". Depois de muito observar, perguntar, conversar, sigo rumo a Vang Vieng – o “paraíso” do Laos. VAZIO – turistas disfarçados de mochileiros da pior espécie. Turistas. Como qualquer outro. Muito pior do que os tao criticados “turistas de pacote”, aqueles que saem de seus países com tudo planejado e se enfiam dentro de ônibus turísticos em grupos onde passam um tempo geralmente curto e pré-determinado em cada uma das atrações – pasmem – turísticas. Em geral carregam um guia e vão lendo pelo caminho entre uma foto e outra. Se ta calor, usam chapéu e protetor solar. Bateu um vento, malha nas costas. Pois bem, pessoas assim teriam tornado a incontestavelmente futil Vang Vieng muito mais rica. Khop jai lai lai!

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